sábado, 17 de julho de 2010

Bala perdida

Bala perdida encontrada.

Ou uma bala no peito da sociedade.


Como que o senhor está se sentindo diante deste fato?

Foi a pergunta de um repórter ao pai do menino de 11 anos atingido por um balaço no peito em Costa Barros no subúrbio do Rio de Janeiro, durante confronto com a Policia Militar e supostos traficantes nas favelas da Quitanda e da Pedreira, zona norte da cidade maravilhosa.

- O que eu posso sentir?

- Meu filho será apenas mais um número na estatística de balas perdidas, na cidade do Rio de Janeiro e ninguém faz nada senhor, meu filho está morto.

Mais uma vitima da disputa de poder entre o trafico e a policia carioca, uma criança em sala de escola (CIEP), em plena aula de matemática, é alvejada com uma bala de fuzil, enquanto seu colega de 10 anos escondido debaixo da mesa da professora assiste a tudo com olhos que querem sair de órbita. Apenas uma bala, que tanto pode ser da policia como dos bandidos, porque a armas de uso exclusivo hoje estão tanto nas mãos da policia como no exercito do trafico naquela cidade como em outras.

A dor do pai diante daquela cena está se tornando um caso comum, como se estivéssemos aceitando como natural. Na reportagem a visível indignação daquele pai, que não derramava uma lagrima, talvez porque ainda não lhe tenha “caído a ficha”, como se diz no popular. O que certamente serão vistas, quando no ato de enterrar seu filho com apenas 11 anos.

Como confortar aquela mãe? Quando pela manha se dirigir ao quarto para acordar o filho para ir à escola? Como será a vida desta mãe acariciando cada coisa deste filho, como única maneira de ainda senti-lo? Imagine a dor desta mãe juntando as últimas lembranças materiais do filho amado, para doar a alguma criança pobre da área. É muita dor.

Chico Buarque numa canção de nome * Pedaço de mim, escreve que a saudade é o pior tormento, é pior do que esquecimento é pior do que se entrevar, mas adiante no ápice de sua definição da saudade, ele afirma que a saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu. Assim com esta canção pode-se explicar o que será a vida desta família.

E são muitos os casos, que já se contabilizam números anuais, comparações com anos anteriores, o que deveria ser uma coisa esporadicamente acidental, vai se tornando caso comum de rua, onde as balas passeiam livremente entre as pessoas como as moscas. Balas que ceifam vidas nos morros, como também nos imponentes edifícios com suas coberturas alvo fáceis às tais balas que se perdem. Que fazer? Onde se sentir seguro das balas esquizofrênicas, Alzheimerzadas (inventei, rsrs) que tanto saem das armas policiais como nas bandidas, nos deixando reféns das ações estabanadas e ou desastradas desta guerra. Sente-se que estamos numa verdadeira guerra, com o diferencial que recebe ataque de dois lados.

Em alguns casos destes confrontos, que são filmados pode-se perceber o desespero da população, na insegurança instalada, lembrando muito o dito popular de frango atirado em cisterna, por outro lado perceber da policia o mesmo desatino do crioulo doido, sem saber por onde começar.

Hoje num cemitério de Irajá num clima de revolta e tristeza, queima de pneus em vias publica o corpo de mais uma vitima das balas perdidas, desce a terra sob olhares lacrimejantes daquela comunidade, com os pais amparados por familiares e amigos.

Cristo Redentor que a tudo assiste, olhai por este povo, fazei com que cessem estas balas ou lhes ensinem o caminho das pedras.





“Oh, pedaço de mim/Oh, metade arrancada de mim/Leva o vulto teu/Que a saudade é o revés de um parto/A saudade é arrumar o quarto/Do filho que já morreu.” Pedaço de Mim-Chico Buarque de Holanda (1977-78)





Toninhobira
17/07/2010

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Rosa Gotejante

Rosa gotejante




















Uma linda rosa na chuva sozinha
Sedosa, exala perfume garbosa
Pétalas finas, rosa na tardezinha
Nela uma gota de chuva teimosa


A gota ali parada se embala
Da brisa recusa permanece presa
Sente a maciez daquela pétala
Sedosa Seduz na sua delicadeza

Naquela desnuda roseira sozinha
Sem folhas, ausente o verde manto
A roseira se esquece da ação daninha


Formiga encantada devoradora
Naquela marcha de desencanto
Livra a rosa da ação picotadora.



Inspirado seduzido na foto de uma rosa no quintal da minha tia (Itabira-MG-março/2010)


Toninhobira

15/07/2010

terça-feira, 13 de julho de 2010

Homem debaixo da pia

O homem debaixo da pia.











(imagem Google- Ouro Preto-Igreja das Merces-MG)



*Sozinho debaixo da pia/santo homem se cura/Do delito da sacristia/Sua alma se apura.

Naquele dia Tom acordou cantando suas musicas apaixonadas. Quase não tomara seu café, apenas sorriu para sua mulher, pernas no mundo e sumiu. Às vezes tinha estes repentes, que bicho homem acomete, quando em vez. O velho cão no terreiro apenas o seguiu até o portão e se assustou, quando este bateu forte. Não estava bravo, nem triste apenas cantarolava,voava e assobiava suas musicas. E assim seu vulto magrelo sumiu naquela rua de pedras de casas semelhantes.

Tom passou pelos bares e não se quedou a primeira do dia, nem aos convites saídos do bar. Seguia resoluto na sua caminhada para lugar nenhum entre ruas e ladeiras. Parou em frente à igreja se benzeu com o nome do pai, olhou para cima como se buscasse ver as mãos de Deus, mas apenas o sol forte a lhe queimar as vistas, agora protegidas pelas mãos. Não viu aquele tradicional cego com seu pandeiro a esmolar, nem o velho barrigudo padre que sempre pela manha ficava observando a passagem dos fieis.

Deu a volta pelo lado da igreja, no sentido da casa de moradia do padre, silenciosamente foi entrando,quando o gato o encarou como lhe condenando,maldito gato pensou Tom, mas seguiu sob os olhos verdes daquele felino. Simulou bater palmas anunciando a chegada, mas ao ouvir sons vindos da igreja, mudou seu trajeto no sentido desta, quando percebeu, que uma mulher trajando preto e véu saía meio assustada da sacristia. Imaginou milhares de coisas que a cabeça humana e de homem possa imaginar sobre os padres, mas aos olhos de tanto santos naquele lugar, deu uma engolida seca e foi entrando.

Ao chegar sentiu um cheiro forte de álcool espalhado pelo ar, andando pouco mais observou caídas umas garrafas rotuladas vinho do padre. Sem entender ao certo pensou, que poderia ter havido algum tipo de roubo, mas aquela mulher apenas saiu apressada não carregava nada, apenas o véu a lhe cobrir parte do rosto. Não vendo movimentos de pessoas passou a verificar o lugar, quando se viu na sacristia. Circulou, olhou e não vendo nada, preparava para sair, quando ouviu uma espécie de ronco. Voltou-se como identificar de onde saía tal coisa.

Chamou pelo nome do padre e do sacristão e não obteve respostas. Homem macho, bravo não se intimidou. Quando se preparava para sair, encontrou o padre, que vinha com cestas de verduras frescas doadas por algum fiel, correu a seu encontro, fez suas reverencias e logo disse que algo estranho havia acontecido na sacristia, que exalava cheiro de álcool e tinha uma garrafa caída no chão, mas não falou da figura da mulher.

Rapidamente os dois se dirigiram para o local, quando novamente o som do ronco se ouviu, Tom tremeu como vara verde e deu uma parada como carro freado bruscamente, mas o padre seguro no crucifixo, logo gritou bravamente, que se fosse o demo, que se afastasse em nome do Pai. Mas sem resposta ou outro tipo de repulsa, circularam pela sacristia,quando percebeu, que debaixo da pia estava o sacristão a dormir como uma criança, ao seu lado uma garrafa do vinho. Tom balançou a cabeça em sinal de incredulidade,pensou naquela mulher e nada disse, pediu bênçãos ao padre e seguiu sua caminhada assobiando a canção "Cachaça Mecanica" do Erasmo Carlos, como se nada houvera acontecido.

Quem era a mulher?

Ninguém sabia ninguém viu apenas o Tom teve a infeliz idéia de segredar a uma Candinha da cidade. O que se sabe naquela cidade das Minas tão Gerais, que depois deste fato o sacristão fora internado numa clinica em Barbacena, mas a candinha da cidade espalhou que a mulher era uma loira solteirona, que havia morrido há muito tempo apaixonada pelo sacristão, que naquele dia teria vindo e o seduziu e tomaram todo o estoque do vinho da igreja.


*Inspirado nesta interação de trova postada no Recanto das Letras (Código de texto T2312300) pelo magnífico Roberto Rego, na qual fiz a interação referida.

Toninhobira
12/07/2010

domingo, 11 de julho de 2010

De minha janela

Da janela num dia comum.


(imagem do Google-Anahisantos)


Era um dia comum destes tantos que nos acontecem por esta vida. Dia em que pessoas comuns perambulam sem saber a que vão ou onde, apenas andam. Uma leve chuvinha umedecia os jardins depois de uma estiada longa de verão. Neste dia comum assim de minha janela me permiti levar pela observação. Observa-se tudo, pássaros urbanos, pessoas, coisas, maquinas, bailar de arvores e maquinas em movimentos. As pessoas caminham cuidadosas, escorregões são possíveis, não convém cair num dia desses, cuida-se, olha, observa o melhor trajeto, cuidado com as bocas de lobo, pois pode ser fatal.

O vento fazia trajetória sentido sul, carregando folhas, papeis e tudo que podia voar. Sacolas plásticas de supermercado às vezes subiam como se fossem pipas, mostrando a falta de educação no destino de lixo de gente que vive emporcalhando as grandes cidades, outros se alojavam nas grades de escoamento das águas pluviais impedindo o curso normal das águas, criando pequenas lagoas, que logo seriam imensas. Criando uma enorme e triste indignação em ver e sentir o comportamento dos humanos para com seu meio.

Mais distante um pouco, o mesmo vento causava horrores às mulheres, numa insistência tarada de lhes arrebatar os vestidos. Uma luta se observava daquela mulher segurando sua sombrinha, que protegia da chuva, naquele instante tomadas de decisões eram precisas imediatas, como segurar a sacola de compras, a sobrinha que insistia em voar bem como o vestido que cismava em subir corpo acima. Uma luta desigual enfrentava aquela mulher. Na esquina os motoristas de Taxi, observavam e sonhavam com a vitoria do vento sobre aquele vestido. Sonhos e fantasias de um dia comum. E a mulher rodava como regravando Cantando na Chuva, luta desigual, situações inusitadas de um dia de vento e chuva na cidade.

Era sim um dia comum, onde pessoas comuns fazem coisas comuns.
Por muito tempo assim fiquei, na minha base de observação, abrigado da chuva e do vento.

Era um rei absoluto na minha posição, onde tirava do dia as mais estranhas emoções e reações da vida humana. A vida às vezes nos proporciona momentos assim, de pura inatividade, de ociosidade e ficamos a observar o movimento do mundo.


Foi então que percebi, que de tanto observar, acabei sendo observado.

Assim diria o grande poeta Drummond: “Eta vida besta!




Toninhobira

11/07/2010